Pés, tronco, genitália. E, por vezes, olhos que não perduram na tela. Escuto uma respiração ofegante – e onipresente – que parece operar como fio condutor das transições fotográficas. Vejo nessas imagens uma aspiração desavergonhada a um gesto, uma tentativa de propor uma segunda ordem de visibilidade para os corpos negros masculinos. Acordos tácitos de veiculação das imagens que configuram modos de representação. De início, essa relação câmera-corpo é explorada através de planos detalhes de partes específicas do corpo – escuro – de um homem que se olha em um espelho de moldura branca. Aos poucos ele começa a se despir: primeiro os sapatos, depois as meias, a calça e a camisa.
Panturrilha, costas, pescoço. Às vezes, olhares que vagam. Sei que mesmo quando me olha de volta, o tema ainda está lá, subjacente. A voz reitera o discurso das imagens ao mesmo tempo em que a respiração instaura o perigo que não se vê. “Ah mas… nada sério” ele diz. Tudo transparece naquele ritmo que não é só fotográfico, é técnico. Mas o ritmo também é fluido, desconjuntado, angustiado, algo que a película fotográfica se recusa a registrar. Agora, o vejo nu e não consigo me lembrar dos outros modos de representação. Historicamente, sempre foi assim. Genitália. Tronco forte. Costas. Eu já ouvi isso que murmuram muitas vezes, e também já percorri o olhar desmedido por essas imagens em outros lugares, outras configurações. “Acho melhor eu não dormir aqui”, ele pontua.
Um corpo que dorme sozinho e que não tem nome, endereço, gostos pessoais, subjetividades. Quando olho pra esse corpo, as imagens me ardem os olhos. Qual o gesto para com esse corpo? O olhar e a montagem não me parecem dar conta de registrar aqueles que vieram antes dos registros. Pra mim, o olhar na montagem mecânica é apenas premonitório. Quando procuro subjetividade nessas imagens, já não estou no mesmo lugar quando retomo o tema. Estou aqui, tentando fazer danças por um texto sobre uma obra alegórica que procura a mimesis daquilo que é irrepresentável. E depois da tela preta, tenho ânsia em perguntar: e agora? o que acontece agora que te olhei nos olhos?